Federação Portuguesa de Atletismo comemora hoje o seu 100.º aniversário!
Os primeiros passos para a fundação da FPA foram dados a 24 de setembro de 1921, com a criação de uma Comissão Dirigente da Federação Portuguesa de Sports Atleticos (primeiro nome da FPA), com Salazar Carreira, José Oliveira e Sousa, Carlos Bazílio de Oliveira e Armando Sá. A formalização, de acordo com registo oficial, aconteceu semanas depois, a 5 de novembro, numa reunião com clubes de Lisboa e do Porto, mantendo-se a Comissão em funções nos anos vindouros. Apenas em 1926 se realizaram eleições, nas quais se elegeu o primeiro presidente: Fernando Pereira.
No entanto, a modalidade já vinha sendo praticada há algumas décadas, segundo os registos de atividades de pedestrianismo (como o “Campeonato de Portugal de Estrada”, com 15 km, entre Paço de Arcos e Algés, organizado pelo Walking Race Club, na época de 1894/1895). Nos anos seguintes, a modalidade é praticada pelo núcleo de britânicos em Portugal e pelas iniciativas dos clubes portugueses, em Lisboa e no Porto, e no princípio do século começa a praticar-se com algumas regras. Em 1910 realizaram-se os I Jogos Olímpicos Nacionais, que são considerados os primeiros campeonatos de Portugal, que decorreram no Velódromo de Lisboa (Palhavã), numa organização da Sociedade Promotora de Educação Física. Antes, a 2 de maio, realizara-se a primeira maratona oficial em Portugal (com 42 800 metros), com triunfo de Francisco Lázaro, que dois anos depois viria a participar (e a encontrar a morte) na maratona dos Jogos Olímpicos de Estocolmo. No ano seguinte (1911) é realizado o primeiro campeonato de corta-mato.
Com a criação da Federação Portuguesa de Sports Atleticos, a modalidade ganhou a estrutura institucional e em breve foram publicados os primeiros estatutos, que designam que teria “a sua sede na capital da nação”, sendo a sua sede provisória nas salas dos clubes filiados.
A designação definitiva de Federação Portuguesa de Atletismo surgiu em 25 de maio de 1929, por alvará passado pelo Governo Civil de Lisboa. As diferentes direções da FPA reuniam-se quando e onde era possível e nos anos 30 e 40 ainda chegou a reunir-se nas salas da Associação de Futebol de Lisboa e da Federação Portuguesa de Futebol, a quem chegou a pagar 50 escudos por mês para ali ter armazenada a correspondência e demais documentação. A FPA encontrou uma casa mais definitiva a partir de 1951, na Praça da Alegria, em Lisboa.
Curiosamente, com esta estabilidade, a modalidade conhece maior organização e são levados a efeito vários projetos, embora sempre com grandes limitações financeiras, algumas delas fruto de verbas prometidas e não cumpridas.
Em 1950, Portugal teve um saltador numa final dos Campeonatos Europeus: em Bruxelas, de 22 a 25 de agosto, Álvaro Dias classificou-se em quarto lugar no salto em comprimento, feito que lhe permitiu ser capa da popular revista “Stadium”.
Um ano antes de completar os seus 40 anos (1960), na primeira edição dos Jogos Ibero-Americanos (prova que antecedeu os Campeonatos Ibero-Americanos) realizada em Santiago do Chile, outro saltador (em comprimento), Pedro Almeida, conquistou a primeira medalha (ouro) portuguesa em provas internacionais (medalha em exibição na Exposição do Centenário, patente na Rua Castilho, n.º5, em Lisboa, até 20 de novembro).
Já foi depois dos 51 anos de vida da FPA (1972, a 31 de julho) é que foi inaugurada a primeira pista sintética de Portugal: no Estádio Nacional, no Jamor, para receber o encontro final de atletismo na quinta edição dos Jogos Luso-Brasileiros.
As grandes medalhas do atletismo português chegaram nos anos 70, já depois do 25 de Abril, altura em que o atletismo português ascendeu ao primado do desporto, com Carlos Lopes a sagrar-se campeão mundial de corta-mato em Chepstown (Reino Unido). Meses depois (julho), o mesmo atleta viria a conquistar a primeira medalha do atletismo português em Jogos Olímpicos, com a prata nos 10 000 metros em Montreal (Canadá).
Estes resultados foram obtidos depois do Plano de Preparação Olímpica que o professor Mário Moniz Pereira apresentou em 1975, que concluía solicitando a dispensa dos atletas portugueses das suas atividades profissionais em algumas horas para poderem treinar duas vezes por dia. O que poucos sabem é que Moniz Pereira já havia apresentado anteriormente (1963) um plano de preparação olímpica em que, não pedindo dispensa profissional, propunha a execução de pequenos estágios (sete) para os atletas que teriam possibilidade de competir nos Jogos Olímpicos de 1964, em Tóquio. Desse grupo de cerca de uma dezena de atletas, acabaram por competir em Tóquio o velocista José Rocha (100 e 200 metros), o maratonista Armando Aldegalega e o meio-fundista Manuel Oliveira, que terminou em quarto lugar na final dos 3000 metros obstáculos. Curiosamente, ele foi o único atleta que não cumpriu nenhum dos estágios.
A primeira medalha feminina portuguesa surgiu em 1982, meses depois do 60.º aniversário da FPA, e foi obtida na primeira participação feminina em Campeonatos da Europa: Rosa Mota sagrou-se campeã na maratona, em Atenas (Grécia), na primeira vez que se realizou a distância para mulheres em grandes competições.
Dois anos depois, em 1984, o atletismo português esteve sempre nas manchetes, com o triunfo de Carlos Lopes (o seu segundo) nos Mundiais de corta-mato, com Portugal a conquistar a primeira medalha coletiva (bronze); com a obtenção do recorde do Mundo de 10 000 metros, por intermédio de Fernando Mamede, no Meeting de Estocolmo, com a presença de Carlos Lopes (segundo classificado); e, finalmente, com a conquista da primeira medalha de ouro olímpica para Portugal, através do incontornável Carlos Lopes, vencedor da maratona em Los Angeles, nuns “Jogos” marcados ainda pelas medalhas de bronze conquistadas por Rosa Mota (maratona) e António Leitão (5 000 metros).
Na década seguinte, no ano de 1996, o atletismo português conquistaria a sua terceira medalha de ouro olímpica. Depois de Carlos Lopes (1984) e de Rosa Mota (1988, campeã na maratona), em Atlanta (Estados Unidos da América), Fernanda Ribeiro sagrou-se campeã olímpica de 10 000 metros.
Nesse mesmo ano de 1996 (a 21 de dezembro), uma aspiração de largos anos concretiza-se: a FPA tem uma sede social própria, em Linda-a-Velha, a minutos do Estádio Nacional. Em 1998, o Presidente da República Portuguesa (Jorge Sampaio), Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Portuguesas, conferiu à Federação Portuguesa de Atletismo o título de Membro Honorário da Ordem do Infante Dom Henrique.
No ano de comemoração do seu 80.º aniversário (2001), a FPA organizou o Campeonato Mundial de Pista Coberta em Portugal, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa.
Ainda na primeira década do século XXI, Nelson Évora, no triplo-salto, conquista a quarta medalha de ouro olímpica para o atletismo (as únicas medalhas de ouro do desporto português). Foi nos Jogos Olímpicos de Pequim.
Em 2019, em Sandnes, na Noruega, Portugal conquistou o seu primeiro triunfo no Campeonato da Europa de Nações, na I Liga, conseguindo o acesso à primeira edição da Superliga aberta apenas às oito melhores seleções da Europa, competição que se realizou na Polónia, em 2021, com Portugal a atingir o sétimo lugar.
Precisamente neste ano de Centenário, a FPA orgulha-se dos feitos conseguidos pelos seus atletas, especialmente pelo título olímpico de Pedro Pichardo e pela medalha de prata de Patrícia Mamona, que antes se haviam sagrado também campeões europeus de pista coberta (tal como Auriol Dongmo).
Texto: António Fernandes (FPA)